terça-feira, 27 de outubro de 2015

Realidade paralela

Segunda feira, quase terça, pra mim o dia só é outro depois que durmo, não importa se são 2 ou 5 da manhã. Fico pensando enquanto isso, em tantas coisas ao mesmo tempo, o mais recorrente pensamento gira em torno da possibilidade de existência de uma realidade paralela, pra onde vão todos os desejos e pensamentos que não levamos mais a sério, porque crescemos. Afinal, naquela época a nota da prova de algarismos começou a ser mais importante. Mas bem que eu gostaria de saber onde se escondem os vagalumes? Alguém já viu um ninho de vagalumes por ai noite dessas? Do que são feitas as estrelas? Cara, como é que o São Jorge não fica entediado morando tanto tempo lá lua? Nessa mesma realidade, eu tenho certeza de que poderíamos encontrar todos os pares de brincos pequeninos que perdemos na infância e junto com eles estariam também os broches, presilhas de cabelo, elásticos, guarda chuvas, chaveiros, bichinhos virtuais, pares de meia, peças de brinquedo e principalmente os malditos e saudosos sapatos das bonecas, eu juro que posso ouvir até hoje os gritos da minha mãe de desgosto, enquanto ela palestrava pros vizinhos toda a minha falta de cuidado com as coisas. Sem falar das borrachas e tampas de caneta que sumiram e somem até hoje de formas inexplicáveis, isso acontece tantas vezes que nem conto mais. A gente cresce e substituí a vontade de chorar na hora da injeção pela vergonha de que alguém nos veja naquela situação, deixamos os diários e as cartinhas para os amigos pra trás, porque começamos a nos preocupar quase sempre, com a possibilidade de uma provável resposta errada numa prova que ainda nem aconteceu. Saudade da infância, dos medos inocentes e sem sentido que perambulavam por lá naquela época, mas que são bem mais agradáveis do que os medos responsáveis que eu adquiri com a minha transição para o mundo adulto. Lembro que meu avô me colocava tanto medo com aquela historia da mula sem cabeça, que eu nem conseguia dormir direito por causa disso! Hoje, pensando melhor, se a mula era mesmo sem cabeça, como ela ia me ver? Eu costumava fechar as janelas do quarto à noite, pro Drácula não vir atrás de mim, e ao mesmo tempo esperava que o Peter Pan entrasse voando pela minha janela e me levasse de “role” pelo bairro, que naquela época parecia mais um labirinto, só pra eu poder ver que aquela menina que ria de mim por eu usar bombinha pra asma na quarta série, também acordava descabelada de manhã e tinha com certeza seus dias ruins, como todo mundo tem. Quando éramos crianças, devíamos ter encontrado um professor que nos mandasse comprar uma caixa enorme pra colocar dentro dela todas as coisas legais que tínhamos naquela época, coisas físicas, pensamentos, medos e os problemas que pareciam nunca ter solução, pois éramos pequenos demais pra entender qualquer coisa. Se as crianças da minha geração tivessem feito isso, hoje em dia, os consultórios de psicólogos estariam bem menos cheios do que estão agora, pois teríamos um lugar físico pra voltar, quando as coisas estivessem uma bagunça. Uma realidade paralela pra se pegar, segurar no colo e guardar no fundo do armário pra proteger como se fosse um tesouro, de todos os piratas que quisessem vir roubar o que há de melhor em nos, e que com o passar dos anos, acabamos esquecendo.